RACIONAIS MC'S, com o clipe "Mil faces de um homem leal - Marighella"
“Sabemos e estamos
convictos que a memória histórica também é um importante campo onde se trava a
luta de classes, e por isto, também é dever dos revolucionários saber intervir
e disputar neste campo com a burguesia, pois, como já foi dito por
historiadores pertencentes ao campo do socialismo: "quem controla o
passado, controla o futuro". Aquilo que conhecemos a respeito do nosso
passado, e a forma pela qual o conhecemos influencia diretamente naquilo que
entendemos que podemos construir em nosso futuro, e para todos os socialistas
revolucionários não existe melhor aprendizado para as presentes e futuras
batalhas contra a burguesia que aquele que nos fornece a história das lutas
passadas dos trabalhadores pela sua libertação.
CARLOS MARIGHELLA |
Carlos Marighella, filho
de uma negra baiana e de um operário imigrante italiano, nasceu no seio da
classe a qual iria servir - não sem contradições, fique claro - entregando
neste serviço sua vida e sua morte. A trajetória política deste revolucionário
remonta à década de 30, quando já atuava no interior do Partido Comunista. Com
a repressão varguista generalizada contra os militantes de esquerda, é preso
durante todo o Estado Novo saindo às ruas na Anistia de 1945, elegendo-se
deputado pelo mesmo Partido Comunista para a Assembléia Constituinte. Milita
durante toda a década de 1950 neste partido e em 64 recusa-se a seguir a
definição do Comitê Central do PCB que exige que seus militantes entreguem-se à
repressão reacionária dos golpistas militar-burgueses. Esta atitude, que lhe
causou alguns ferimentos à bala quando foi descoberto pela polícia em um cinema
onde se escondia, já demonstra uma grave ruptura com a linha política dos
colaboracionistas do PC que haviam negligenciado toda e qualquer resistência
popular ao golpe e que agora propunham entregar, cabeças baixas, os militantes
do povo nas mãos da repressão, nos marcos da adoção da linha da "oposição
democrática" à ditadura.
Marighella vai consolidar
seu posicionamento contra a linha do PCB ditada diretamente por Moscou no
âmbito da política da "coexistência pacífica" com o mundo
capitalista, durante a reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade
(OLAS) em Cuba, onde apontava-se - ao contrário - no caminho da difusão da luta
armada em todo o continente. Marighella defende contra o Comitê Central do PCB
a política da OLAS e é expulso do partido, não porém, sem antes articular um
enorme "racha" no "Partidão" que iria originar a Ação
Libertadora Nacional, a maior organização revolucionária político-miltar que
atuou no país nas décadas de 60 e 70. Ao contrário do que mente a
"história oficial" da burguesia, os camaradas da ALN e das diversas
organizações revolucionárias que atuaram neste período, como a Vanguarda
Popular Revolucionária, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, a Vanguarda
Armada Revolucionária - Palmares, entre outras, foram não grupos de
aventureiros juvenis irresponsáveis, mas a melhor expressão dos operários,
estudantes e camponeses organizados na esquerda revolucionária que souberam
ousar lutar contra a reação burguesa e contra o reformismo burocrático da
esquerda colaboracionista, procurando seus caminhos, tortuosos e incertos, porém,
caminhos e não imobilismo.
(...)
Estudantes brasileiros atacam carro da polícia (1968) |
Para além destes equívocos
apresentados em relação à trajetória militante de Marighella, achamos
importante ressaltar o seu exemplo de combatividade, perseverança e intransigência
revolucionária, que o conduziu não aos altos postos ministeriais fornecidos
pela colaboração com a burguesia, mas ao digno lugar reservado àqueles que
tombam em defesa do povo e de seus mais preciosos direitos. Marighella
representa acima de tudo a negação do reformismo burocrático e a afirmação da
ação revolucionária como princípio. Marighella é a expressão de tudo aquilo que
a burguesia brasileira e seus serviçais colaboracionistas no governo federal
querem apagar ou deformar em nossa história. Em um momento histórico em que
ex-guerrilheiros arrependidos, como José Dirceu e Dilma Roussef, transformam-se
em ministros da burguesia, em que convictos reacionários, como José Genoíno,
posam como heróis de uma "resistência democrática" que nunca existiu.
Neste momento em que Lula e o PT decidem pela manutenção em segredo dos
arquivos da ditadura, e em que a grande maioria dos setores populares
organizados foram tragados para dentro deste governo neoliberal francamente
pró-imperialista, é fundamental manter erguida alta a memória de nossos
combatentes. Em relação à nossa história, toda a burguesia e todos os
colaboracionistas, na prática, engrossam as fileiras dos ditadores, enquanto
nós, as dos combatentes revolucionários. Não há meio termo.
Entendemos que lembrar e
homenagear a memória do camarada Carlos Marighella é não somente um ato de
justiça, mas antes de tudo uma tarefa política. O legado dos revolucionários da
década de 60 e 70 em nosso país não foi apenas abandonado, ele é, pela
burguesia e seus serviçais políticos e intelectuais, sistematicamente
deformado, ridicularizado, pervertido, de uma maneira que não possa ser
resgatado. Existe um abismo no que diz respeito à memória social da luta de
classes em nosso país, e este abismo consiste exatamente no que diz respeito ao
período da ação revolucionária das organizações político-militares que
combateram a ditadura dos capitalista fardados e paisanos. É fundamental ter
clareza que a "Nova República" e a "consolidação
democrática" sob a qual vivemos e sofremos é uma realidade que não teria
se estabilizado se não fosse a aceitação pela esquerda colaboracionista em
contribuir para o permanente trabalho de separar o exemplo revolucionário dos
combatentes dos anos 60 e 70 da memória de nosso povo e do referencial de suas
organizações. Ao PT e seus cúmplices só foi permitido pela burguesia atingir os
altos postos governamentais graças aos grandiosos serviços
contra-revolucionários prestados, inclusive o achincalhe da memória de nossos
mártires. Homenagear Marighella é tomar posição em favor da verdade em favor da
história de luta de nosso povo, e sendo assim, a maior homenagem que podemos
prestar a este revolucionário é prosseguir e avançar sua luta que hoje passa
necessariamente por fortalecer a organização dos trabalhadores nos bairros,
fábricas, escolas, favelas e campos, amadurecendo aí uma firme perspectiva
revolucionária, derrotando o governismo, e combatendo as perspectivas
reformistas.
Marighella??
PRESENTE!!!!!
Ousar
Lutar, Ousar vencer!
(Texto retirado do
Comunicado Nº 04 da União Popular Anarquista - UNIPA)
Trabalhadores enfrentam a repressão policial em plena Ditadura Civil-Militar |
Liberdade
Não ficarei
tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
Para que eu
possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.
Queira-te eu
tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por
ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”
(MARIGHELLA,
São Paulo, Presídio Especial, 1939)
Poesia sobre Marighella (sem titulo)
Em
seu enterro não havia velas:
Como
acendê-las, sem a luz do dia?
Em
seu enterro não havia flores:
Onde
colhê-las, nessa manha fria?
Em
seu enterro não havia povo:
Como
encontrá-lo, nessa rua vazia?
Em
seu enterro não havia gestos:
Parada
inerte a minha mão jazia.
Em
seu enterro não havia vozes:
Sob
censura estavam as salmodias.
Mas
luz, e flor, e povo, e canto
responderão
“presente”, chegada a primavera mesmo que tardia!
Ana
Montenegro
Berlim,
outono 1969.
Comandante Carlos Marighella PRESENTE! |
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