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segunda-feira, 30 de julho de 2012

MARIGHELLA VIVE E VENCERÁ!


RACIONAIS MC'S, com o clipe "Mil faces de um homem leal - Marighella"





“Sabemos e estamos convictos que a memória histórica também é um importante campo onde se trava a luta de classes, e por isto, também é dever dos revolucionários saber intervir e disputar neste campo com a burguesia, pois, como já foi dito por historiadores pertencentes ao campo do socialismo: "quem controla o passado, controla o futuro". Aquilo que conhecemos a respeito do nosso passado, e a forma pela qual o conhecemos influencia diretamente naquilo que entendemos que podemos construir em nosso futuro, e para todos os socialistas revolucionários não existe melhor aprendizado para as presentes e futuras batalhas contra a burguesia que aquele que nos fornece a história das lutas passadas dos trabalhadores pela sua libertação. 

CARLOS MARIGHELLA
Dia 04 de novembro de 1969, Alameda Casa Branca, cidade de São Paulo. Neste dia e neste local era assassinado pelos comandos da repressão política da ditadura militar-burguesa o revolucionário e combatente Carlos Marighella. O "terrorista" - como era norma qualificar os revolucionários em armas, e como voltou a ser hoje em dia - havia sido capturado numa trama policial que envolveu todo o arsenal disponível para a guerra suja, tendo como seu instrumento maior a prática generalizada da tortura como método de extração de informações. Tal era o terror que os revolucionários em geral, e Marighella em particular, inspiravam nos agentes repressores da burguesia que no cerco que levou à morte de Marighella registrou-se o fato de os policiais balearam-se entre si tomados pelo nervosismo. 

Carlos Marighella, filho de uma negra baiana e de um operário imigrante italiano, nasceu no seio da classe a qual iria servir - não sem contradições, fique claro - entregando neste serviço sua vida e sua morte. A trajetória política deste revolucionário remonta à década de 30, quando já atuava no interior do Partido Comunista. Com a repressão varguista generalizada contra os militantes de esquerda, é preso durante todo o Estado Novo saindo às ruas na Anistia de 1945, elegendo-se deputado pelo mesmo Partido Comunista para a Assembléia Constituinte. Milita durante toda a década de 1950 neste partido e em 64 recusa-se a seguir a definição do Comitê Central do PCB que exige que seus militantes entreguem-se à repressão reacionária dos golpistas militar-burgueses. Esta atitude, que lhe causou alguns ferimentos à bala quando foi descoberto pela polícia em um cinema onde se escondia, já demonstra uma grave ruptura com a linha política dos colaboracionistas do PC que haviam negligenciado toda e qualquer resistência popular ao golpe e que agora propunham entregar, cabeças baixas, os militantes do povo nas mãos da repressão, nos marcos da adoção da linha da "oposição democrática" à ditadura. 

Marighella vai consolidar seu posicionamento contra a linha do PCB ditada diretamente por Moscou no âmbito da política da "coexistência pacífica" com o mundo capitalista, durante a reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) em Cuba, onde apontava-se - ao contrário - no caminho da difusão da luta armada em todo o continente. Marighella defende contra o Comitê Central do PCB a política da OLAS e é expulso do partido, não porém, sem antes articular um enorme "racha" no "Partidão" que iria originar a Ação Libertadora Nacional, a maior organização revolucionária político-miltar que atuou no país nas décadas de 60 e 70. Ao contrário do que mente a "história oficial" da burguesia, os camaradas da ALN e das diversas organizações revolucionárias que atuaram neste período, como a Vanguarda Popular Revolucionária, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, a Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares, entre outras, foram não grupos de aventureiros juvenis irresponsáveis, mas a melhor expressão dos operários, estudantes e camponeses organizados na esquerda revolucionária que souberam ousar lutar contra a reação burguesa e contra o reformismo burocrático da esquerda colaboracionista, procurando seus caminhos, tortuosos e incertos, porém, caminhos e não imobilismo. 

(...)

Estudantes brasileiros atacam carro da polícia (1968)
Para além destes equívocos apresentados em relação à trajetória militante de Marighella, achamos importante ressaltar o seu exemplo de combatividade, perseverança e intransigência revolucionária, que o conduziu não aos altos postos ministeriais fornecidos pela colaboração com a burguesia, mas ao digno lugar reservado àqueles que tombam em defesa do povo e de seus mais preciosos direitos. Marighella representa acima de tudo a negação do reformismo burocrático e a afirmação da ação revolucionária como princípio. Marighella é a expressão de tudo aquilo que a burguesia brasileira e seus serviçais colaboracionistas no governo federal querem apagar ou deformar em nossa história. Em um momento histórico em que ex-guerrilheiros arrependidos, como José Dirceu e Dilma Roussef, transformam-se em ministros da burguesia, em que convictos reacionários, como José Genoíno, posam como heróis de uma "resistência democrática" que nunca existiu. Neste momento em que Lula e o PT decidem pela manutenção em segredo dos arquivos da ditadura, e em que a grande maioria dos setores populares organizados foram tragados para dentro deste governo neoliberal francamente pró-imperialista, é fundamental manter erguida alta a memória de nossos combatentes. Em relação à nossa história, toda a burguesia e todos os colaboracionistas, na prática, engrossam as fileiras dos ditadores, enquanto nós, as dos combatentes revolucionários. Não há meio termo. 

Entendemos que lembrar e homenagear a memória do camarada Carlos Marighella é não somente um ato de justiça, mas antes de tudo uma tarefa política. O legado dos revolucionários da década de 60 e 70 em nosso país não foi apenas abandonado, ele é, pela burguesia e seus serviçais políticos e intelectuais, sistematicamente deformado, ridicularizado, pervertido, de uma maneira que não possa ser resgatado. Existe um abismo no que diz respeito à memória social da luta de classes em nosso país, e este abismo consiste exatamente no que diz respeito ao período da ação revolucionária das organizações político-militares que combateram a ditadura dos capitalista fardados e paisanos. É fundamental ter clareza que a "Nova República" e a "consolidação democrática" sob a qual vivemos e sofremos é uma realidade que não teria se estabilizado se não fosse a aceitação pela esquerda colaboracionista em contribuir para o permanente trabalho de separar o exemplo revolucionário dos combatentes dos anos 60 e 70 da memória de nosso povo e do referencial de suas organizações. Ao PT e seus cúmplices só foi permitido pela burguesia atingir os altos postos governamentais graças aos grandiosos serviços contra-revolucionários prestados, inclusive o achincalhe da memória de nossos mártires. Homenagear Marighella é tomar posição em favor da verdade em favor da história de luta de nosso povo, e sendo assim, a maior homenagem que podemos prestar a este revolucionário é prosseguir e avançar sua luta que hoje passa necessariamente por fortalecer a organização dos trabalhadores nos bairros, fábricas, escolas, favelas e campos, amadurecendo aí uma firme perspectiva revolucionária, derrotando o governismo, e combatendo as perspectivas reformistas.

Marighella?? PRESENTE!!!!! 

Ousar Lutar, Ousar vencer!

(Texto retirado do Comunicado Nº 04 da União Popular Anarquista - UNIPA)


Trabalhadores enfrentam a repressão policial em plena Ditadura Civil-Militar


Liberdade

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”

(MARIGHELLA, São Paulo, Presídio Especial, 1939)



Poesia sobre Marighella (sem titulo)

Em seu enterro não havia velas:
Como acendê-las, sem a luz do dia?

Em seu enterro não havia flores:
Onde colhê-las, nessa manha fria?

Em seu enterro não havia povo:
Como encontrá-lo, nessa rua vazia?

Em seu enterro não havia gestos:
Parada inerte a minha mão jazia.

Em seu enterro não havia vozes:
Sob censura estavam as salmodias.

Mas luz, e flor, e povo, e canto
responderão “presente”, chegada a primavera mesmo que tardia!

Ana Montenegro
Berlim, outono 1969.

Comandante Carlos Marighella PRESENTE!

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